A mãe de Julio Cezar da Silva Salles, de 12 anos, disse, na manhã desta quarta-feira, que seu filho está em coma. Jaqueline da Silva Menezes tem ficado ao lado do garoto no Hospital estadual Getúlio Vargas, na Penha, na Zona Norte do Rio, desde que ele foi atropelado, na última segunda-feira. O menino brincava com um grupo de outras crianças, que se arriscavam no meio dos carros na Rodovia Presidente Dutra, altura de Jardim América, também Zona Norte, para pegar impulso e se jogarem numa poça de água, quando foi atingido por um carro.
- No corpo do meu filho não há ferimento algum. Foi só a pancada na cabeça mesmo. Ele sofreu um traumatismo craniano que, segundo os médicos, está no grau mais grave - disse ela, nesta quarta.
Jaqueline lembrou os momentos que atencederam o atropelamento. Segundo ela, Julio havia saído mais cedo da escola e disse para a mãe que ia jogar bola num campinho perto de casa, na comunidade Beira Rio, como faz todos os dias:
- Acho que ele se juntou com mais cinco ou sete coleguinhas e foram para lá (a poça d'água formada às margens da Dutra).
A mãe recordou ainda o momento em que foi avisada sobre o que acontecera com o menino.
- Eu estava em casa com minha filhinha de 2 anos quando soube. Senti que ia desmaiar. Mas Deus me deu força e cheguei ao local do acidente. Meu filho já estava na ambulância. Fui atrás no carro de um vizinho. E estou ao lado dele desde então - contou.
A mãe disse que não culpa ninguém pela tragédia:
- Não culpo o motorista. Tenho plena consciência de que meu filho não deveria estar naquele local.
O motorista Alex da Silva Menezes, de 36 anos, tio de Julio, passou pelo local cerca de cinco minutos após o acidente. Ele disse que já havia alertado o sobrinho anteriormente.
- Na nossa comunidade não tem opção de lazer. Então, as crianças fazem aquela água suja de piscina. Eu já tinha passado com meu sobrinho por lá e visto meninos se jogando na poça. Eu perguntei para ele: “Você também faz isso?”. E ele respondeu: “Não, tio. Tá maluco?”. Mas sabe como é criança, né? - contou o motorista.
Segundo ele, a água acumulada no local é fruto de uma obra feita pela Concessionária CCR Nova Dutra:
- Fizeram uma ampliação da ponte, que gerou aquilo ali. A água fica empoçada dias, meses. E eu lamento dizer que pode acontecer uma tragédia novamente, a qualquer momento. No fim de semana, por exemplo, se fizer sol, as crianças vão voltar a mergulhar ali.
Procurada, a Secretaria estadual de Saúde confirmou que o estado de saúde de Julio é grave.
Em nota, a assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que, de acordo com o delegado titular da 39ª DP (Pavuna), Rui Barboza, um inquérito foi instaurado para apurar os fatos. O motorista do carro já prestou depoimento e os agentes, agora, vão ouvir os parentes da vítima. Eles também aguardam o resultado dos exames médicos do menino.
Concessionária nega obra
Em nota, a CCR negou ter feito obra naquele trecho da Dutra: “A informação não procede. Não existem obras da Concessionária no local. A água no local é a vazão do Rio Acari. Quando chove no Rio de Janeiro, o mar não dá vazão aos rios e aquele ponto enche em função da vazão”.
A Polícia Rodoviária Federal - responsável pelo policiamento na estrada - também se pronunciou sobre o ocorrido:“- Lamentamos profundamente o acidente que vitimou a criança na Rodovia Presidente Dutra (BR-116), km 164, pista sentido RJ;
- Alertamos para os perigos de crianças desacompanhadas às margens de rodovias;
- Os responsáveis devem ficar atentos sobre a localização dessas crianças;
- Sempre que localizamos crianças e/ou adolescentes em situação de vulnerabilidade, acionamos os órgãos competentes;
- Reforçamos a necessidade de que as pessoas denunciem, liguem para a PRF em casos de anormalidades em rodovias federais, através do telefone 191, inclusive em casos como esse (crianças em risco) ou parecidos (animais soltos na pista, etc);
- O atropelamento de pessoas foi a segunda causa de mortes (ficando atrás somente das colisões frontais) nas rodovias federais do RJ, em 2015; foram 351 acidentes, com 183 feridos leves, 133 feridos graves e 97 mortes;
- A maior parte dos atropelamentos ocorrem em regiões urbanas e muitas vezes nas proximidades de passarelas e/ou locais para travessia de pedestres;
- É grande o número de pessoas que não utilizam as passarelas de pedestres, por exemplo, e atravessam fora dos locais indicados pela sinalização”.
Fonte: Extra