Poucas coisas na vida são tão chatas quanto a sensação de arrependimento. Você quebra a cabeça tentando descobrir por que tomou a decisão errada quando poderia ter feito diferente, e, como se não bastasse a vontade de bater a cabeça contra a parede, em muitos casos não há como corrigir o estrago.
Inúmeras pesquisas já foram realizadas na tentativa de entender por que as pessoas fazem tanta coisa errada e, pelo visto, alguns fenômenos do nosso pensamento são os culpados. Hora de descobrir que fenômenos são esses e evitar a fadiga com relação a decisões futuras, afinal é sempre possível mudar de atitudes e de pontos de vista:
1 – O efeito IKEA
Se você estivesse em uma aula de artesanato terminando um enfeite natalino que ficou razoavelmente bom e precisasse escolher entre levar para casa o seu trabalho ou um enfeite bem mais bonito, feito pela professora, qual escolheria? Possivelmente o seu.
A verdade é que nós tendemos a preferir tudo aquilo que é feito por nós mesmos. Essa preferência é tanta que às vezes nem enxergamos os defeitos e falhas da nossa produção, dando mais valor a ela do que a algo feito de maneira profissional. Eis o efeito IKEA, que faz com que você ame tudo o que foi feito por você mesmo – o nome tem a ver com os produtos IKEA, conhecidos na gringa por serem baratos e fáceis de montar.
Fazer alguma coisa não mostra apenas que tivemos boa vontade. Na verdade, essa é uma maneira de provarmos nossas aptidões – aqueles que já foram humilhados por causa de suas habilidades tendem a valorizar ainda mais o que produzem. Se você pensar pelo ponto de vista de ideias, essa lógica faz ainda mais sentido – ou a internet não seria esse grande campo de batalha cada vez que alguém discordasse da ideia de alguma pessoa.
É por isso, por exemplo, que uma pessoa em cargo de chefia pode continuar a insistir em uma estratégia ruim em vez de dar ouvidos à ideia genial de um de seus subordinados. Por causa do efeito IKEA, está aí uma bela maneira de tomar uma atitude errada.
2 – A rima
Talvez você nunca tenha reparado nisso, mas todo mundo tem uma queda por frases que rimam. Já é comprovado cientificamente que as pessoas tendem a acreditar mais em uma frase quando ela é formada por sentenças que rimam. Bizarro, né?
E olha só que curioso: já é comprovado que as pessoas tendem a comprar produtos cujas músicas de propagandas sejam grudentas e cheias de rima. Então a dica aqui é ficar esperto e escolher mais critérios de compra e decisão. Às vezes a gente é induzido a tomar decisões sem ao menos fazer ideia – ou você já tinha percebido essa história dos jingles cheios de rimas?
3 – Dominância assimétrica
Às vezes, quando precisamos escolher entre duas opções e ficamos em dúvida, imaginamos que uma terceira opção mudaria tudo. A verdade é que isso funciona, sim, mas não pelo motivo que você imagina.
Vamos dizer que você precisa escolher entre almoçar em um restaurante perto de casa, onde a comida é razoável, e almoçar em um lugar mais longe, conhecido por ter um cardápio espetacular. Indeciso sobre o que vale mais – distância ou qualidade –, você quebra a cabeça e não consegue escolher.
De repente, alguém chega e sugere aquele restaurante com fama de servir pratos muito ruins, mas que fica no meio do caminho entre os outros dois restaurantes. Dessa forma, você sente que é mais fácil fazer a sua escolha e acaba preferindo o restaurante de comida nem ruim nem boa, que fica pertinho da sua casa.
Na verdade, a terceira opção nem chegou a ser uma opção para você – ou você consideraria almoçar em um lugar onde a comida é péssima? É por isso que a presença de uma terceira opção nem sempre importa. Pelo menos não diretamente. Isso nos mostra que tomamos decisões com base no número de opções e não no que realmente importa, de modo que é possível dizer que sem a opção do terceiro restaurante você possivelmente seguiria em direção àquele que fica mais longe.
4 – Falta de empatia
Para provar isso, cientistas observaram as respostas de dois grupos de pessoas– um tinha acabado de terminar uma série de atividades físicas; o outro estava prestes a começar a se exercitar. Eles foram informados a respeito de um andarilho que fora encontrado sem comida nem água. As pessoas que tinham acabado de se exercitar, e que possivelmente estavam com sede e fome foram as que mais se comoveram com a situação do andarilho. Ou seja: elas sabiam, ainda que de maneira totalmente diferente, que é horrível sentir fome e sede. A falta de empatia prejudica, e muito, as relações interpessoais e, consequentemente, as tomadas de decisões. Vai desde os pais que debocham do filho pequeno que tem medo do monstro embaixo da cama até os adolescentes que praticam bullying ou os publicitários que ainda não entenderam que alguns comerciais são extremamente ofensivos a mulheres e crianças, por exemplo.
Colocar-se no lugar do outro, além de um exercício de cidadania bem básico, é também sinal de inteligência emocional e maturidade social. A gente recomenda.
5 – Achar que o mundo é justo
O mundo está longe de ser considerado um lugar ideal, e por isso muitas pessoas tendem a pensar que a justiça vai acontecer mais cedo ou mais tarde – no caso de um assassino que ainda não foi capturado, é até reconfortante pensar dessa maneira.
Infelizmente, esse raciocínio é uma faca de dois gumes e pode fazer com que você tome péssimas decisões. Para explicar isso, usaremos o trabalho de Melvin Lerner, psicólogo social que realizou uma série de pesquisas para descobrir o impacto que essa crença em um mundo aonde a justiça chega uma hora ou outra tem sobre nós.
Em um estudo feito em 1996, Lerner selecionou um grupo de pessoas, que viam outras pessoas que acreditavam estar em um experimento cruel. Esse segundo grupo recebia choques elétricos e os observadores não podiam fazer absolutamente nada para interromper a dor dessas pessoas. O resultado? Em pouco tempo os observadores estavam convencidos de que aquelas pessoas estavam levando choque porque mereciam.
Na prática, vemos esse tipo de julgamento diariamente, seja por pessoas que acreditam que a mulher assediada mereceu passar por aquilo, seja quando nos posicionamos contra qualquer ajuda governamental destinada a pessoas carentes, só para citar dois exemplos clássicos. Eis o lado negativo de acreditar em um mundo que, mais cedo ou mais tarde, faz justiça sozinho.
Essa crença, na verdade, é tão intrínseca que raramente a questionamos. Ela significa que nós precisamos encontrar um meio de justificar as coisas ruins que acontecem com a humanidade. Um estudo feito em 2009 sugeriu que memoriais do Holocausto acabam, na verdade, promovendo a cultura antissemita entre os visitantes. É quase como se, vendo o lugar onde milhões de judeus foram mortos, esses turistas passassem a acreditar que eles mereceram passar por aquilo. É ou não é horrível?
Por trás disso tudo está uma lógica bem simples: dizer que o mundo é injusto significa acreditar que coisas ruins podem acontecer com pessoas “boas”. Às vezes é mais simples acreditar que pessoas em situações de sofrimento mereceram estar ali, por algum motivo, do que conceber a ideia de que coisas injustas acontecem com todos e podem chegar até você em breve. É triste, mas faz sentido.